Sunday, October 12, 2008

"Gosto tantíssimo do teu país"

A expressão foi utilizada por uma espanhola de Madrid, perdida também pela Ilha. Há cerca de dois anos considerou que Portugal era um bom sítio para passar alguns meses, porque, diz ela eles são "muito ignorantes em relação a Portugal. Nada nos interessa. Desculpa-me, mas enquanto nos subjugamos aos franceses, ignoramos a vossa existência".

Passadas um par de horas estava rodeada por dois casais: ela e o namorado francês que a tinha acompanhado na conquista de Lisboa (nas suas próprias palavras esta "enamorado por Lisboa") e um casal Húngaro que viveu nas Caldas da Rainha durante 3 anos... como este último me disse "agora posso ouvir o Português de Portugal".

Para mim foi algo pacificador: há cerca de mês e meio que não falava a língua de Camões no meu no dia-a-dia.

Perguntei ao A (o homem Húngaro) o que os tinha levado a Portugal. Porquê Portugal? Respondeu que a esposa queria especializar-se em cerâmica (ela faz peças de joalharia em prata e peças de decoração em cerâmica) e na altura as opções em termos de cursos seria a Holanda :) ou Portugal. Decidiram por este último por ser mais fácil o processo de emigração. Também ele tinha encontrado um curso totalmente financiado na área de Hotelaria e Marketing .

Recordações positivas de Portugal? Começaram a enumerar toda a espécie de comida, iguarias, sobremesas que nem eu tinha ouvido falar. Aqui entrou o Francês na conversa a explicar-me num Português misturado com Castelhano e Francês dum "queijo com paprika vermelha por cima, da região do Porto". Ao que eu respondi com uma cara de interrogação. "sim, sim... como se diz paprika com português? Ai, portuguesa que tens de trazer quando lá fores". Ainda hoje estou por descobrir que queijo é este.

A discussão aumentou de tom quando o Húngaro se saiu com: "Hum, não Lisboa não gosto muito... é como qualquer grande cidade!" E julgam que eu precisei de defender a Cidade das 7 Colinas. Nada disso ! O francês e a espanhola , ela de mão na anca, "qual quê? Lisboa é única... os cheiros, os altos e baixos" e expressão dela "coixinhas tan lindas".

O deslumbramento por Portugal só se esfuma quando lhe perguntamos porque resolveram sair...

O casal Espanha/frança foi à aventura. Ela arranjou trabalho num restaurante vegetariano onde ganhava, sem contracto, 400 euros por mes 26 horas por semana. Passado dois meses resolveu que ganhava mais dinheiro a vender tortilla na noite Lisboeta... e tinha tempo para visitar o país.

O casal húngaro, foi mais complicado. A artista (que tem trabalhos líndissimos - e caríssimos, também) interviu conversa e comentou que adorou estudar lá. Trabalho, também o encontrou, nomeadamente em ateliers de professores, normalmente nao remunerado. Os famosos estágios... Criticou também o facto de não partilharem conhecimento; os mais velhos, os intituídos no mercado têm um medo terrível dos artistas mais novos.

E assim, rumou a Ilha, onde paga uns irrisórios 150 euros mensais numa antiga fábrica recuperada para ajudar ‘novos artistas'. Tem acesso a todo o tipo de material e de maquinaria sem mais um cêntimo. É incrível como deixamos sair pessoas depois de terem estudado num instituto público. Deve ser o nosso bom espírito samaritano: damo-lhes formação e depois fechamos-lhes as portas enviando-os para países mais desenvolvidos...

Perguntei-lhes também o que achava da Alma Portuguesa. O Hungaro disse espontaneamente: estão sempre a queixar-se, “se disseres se estás bem, que nao tens qualquer tipo de problema desconfiam de ti. Se o governo resolve por 5000 bicicletas disponíveis e se esgotam, pensam logo em como criticar ‘que foi falta de planeamento, que a verba foi para os bolsos de alguém’. Quando lá cheguei, num caso destes eu ‘que bom, as pessoas aderem, 5000 bicicletas e esgotaram’ mas tens de ter cuidado porque o hábito de te queixares pega”. Disse também que achava hilariante (sim, foi a palavra utilizada) o sotaque brasileiro, que aquilo não é Português, "português é Pessoa, é Eugénio de Andrade".

No meio desta conversa toda (e foi por uma noite inteira em que o Francês quando abria a boca só lhe saiam palavras soltas... Dão, queijadas de Sintra, bacalhau... BROA DE MILHO (e quando disse isto, agarrou-me no braço e abriu muito os olhos que eu só pensei "ou é maluco ou está sob o efeito de drogas... só pode"), o que me comoveu foi sentir o carinho com que falam do nosso país, como os olhos briham quando lembram do tempo que passaram lá. O regresso a casa foi feito com o francês que, depois de ter passado por toda a nossa gastronomia, passou para lugares: "bem e aquele sitio om caldo verde e paes com chouriça?". "merendeira..". "isso, isso. E auela praia no Sul. arri, arri?". "A arrifana". "Isso, isso, bom, vejo que conheces Portugal". Lá tive de o lembrar que é o meu país. Para além disso, pediram filmes, música e livros em Português.

Os Irlandeses, costumam dizer que "home is where your heart is". O meu está totalmente nesse rectângulo de terra com quem nunca vou ter uma relação pacífica. Não percebo como nos deixamos que nos tratem tão mal e como tratamos tão mal todos os outros. Gerações após gerações continuamos a acredtitar na volta do Sebastião ou que o Milagre da Fatima irá de forma instantânea livrar-nos da crise e que o nosso desenvolvimento está em soluções externas ou em projectos megalomanos. Assim como não percebemos como somos inteligentes e criativos e continuamos a valorizar o chico-espertismo ouo nacional porreirismo.

1 comments:

Paquito said...

Good to read there's a person from Madrid around you now Fado: she's gonna make you smile :-))

Remember: for us, you're a completely unknown society (even though we're neighbors)... But you're nice in general (though pesimistics: I think your Fado is the perfect reflexion of your feelings... Honesty, love, hurt but pain and sorrow)...

The future is bright Fado: It's waiting for you and you're more than ready to get tons of cool things :-))

Will you join me? :-))

Kind regards,

Paquito.

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