Monday, January 08, 2007

Ainda sem palavras

Amigos,
Segunda feira [27 de Novembro, N. do T.] foi o dia a partir do qual estivemos mais tempo no Iraque do que em toda a Segunda Guerra Mundial.
Assim é. Pudemos vencer a Alemanha nazi, Mussolini, e o Império japonês em MENOS tempo do que o que levou a única superpotência mundial a garantir a segurança na estrada entre o aeroporto e o centro de Bagdad.
E ISSO ainda nem sequer está assegurado. Depois de 1.347 dias, o mesmo tempo que nos levou a avançar através da África do Norte, irromper nas praias de Itália, conquistar o Pacífico Sul e libertar toda a Europa ocidental, depois de três anos e meio, nem sequer pudemos conquistar uma simples estrada e proteger-nos de um artefacto caseiro de 2 latitas colocadas num buraco. Por isso, a tarifa de um táxi desde o aeroporto até Bagdad, uma viagem de 25 minutos, custa agora à volta de 35 dólares. Isto sem incluir a merda dum capacete.
São as nossas tropas culpadas deste fracasso absoluto? De modo algum, isto deve-se ao facto de nenhuma quantidade de tropas ou helicópteros ou democracia à força de canhões poder “ganhar” a guerra do Iraque. É uma guerra perdida, porque nunca teve direito à vitória; perdida porque iniciada por homens que nunca antes estiveram numa guerra, por homens que se escondem atrás de outros, os enviados para lutar e morrer.
Escutemos o que dizem os iraquianos, de acordo com uma sondagem recente realizada pela Universidade de Maryland:
71% querem que os EUA saiam do Iraque;
61% APOIAM os ataques da resistência contra as tropas norte-americanas.
Se a maioria dos cidadãos iraquianos dizem que os nossos soldados devem ser assassinados e esquartejados!, então porque demónio ainda ali estamos?
Há muitas maneiras de libertar um país. Normalmente, os naturais desse país sublevam-se e libertam-se a si mesmo. Foi o que nós fizemos. Também se pode fazer através da desobediência civil pacífica. Foi o que fez a Índia. Também se pode conseguir que o resto do mundo boicote um regime até que este se encontre tão isolado que tenha de se render. Foi o que fez a África do Sul. Ou esperar até que, cedo ou tarde, as legiões do rei se retirem (por vezes só porque faz frio). Foi o que fez o Canadá.
A maneira como NÃO funciona consiste na invasão de um país e dizer às pessoas ”estamos aqui para os libertar”, quando eles nada fizeram para se libertarem a si próprios. Onde estavam esses suicidas com bombas quando Sadam os oprimia? Onde estava a resistência que coloca bombas nas bermas dos caminhos quando passavam as comitivas de Sadam? Suponho que o velho Sadam era um déspota cruel, mas não o suficiente para que milhares arriscassem o pelo. Oh, não, Mike, não podiam fazê-lo, Sadam tê-los-ia assassinado! A sério? Não acreditas que o rei Georges mandou assassinar os colonos sublevados? Não acreditas que Patrick Henry e Tom Paine tinham medo? Mas isso não os deteve. Quando dezenas de milhar não estão dispostos a verter o seu sangue para derrubar um ditador, isso deveria ser a primeira pista de que não vão estar dispostos a participar quando alguém decidir libertá-los.
Um país pode AJUDAR outro a derrubar um tirano (isso foi o que os franceses fizeram por nós na nossa revolução), mas depois de ajudar vai-se embora. Os franceses não ficaram para nos dizer como devíamos organizar o nosso governo. Não disseram “ficamos porque queremos os seus recursos naturais”. Deixaram-nos com os nossos próprios meios e demorámos seis anos até fazermos umas eleições. Depois sofremos uma sangrenta guerra civil. Isso é o que acontece, a história está cheia de exemplos desses. Os franceses não disseram, “Oh, devíamos ficar nos EUA porque se não ficarmos vão matar-se uns aos outros devido a essa coisa da escravatura”.
A única maneira de uma guerra de libertação ter possibilidades de êxito é os oprimidos contarem com o apoio dos seus próprios cidadãos – com um grupo de Washingtons, Franklins, Gandhis e Mandelas que os guiem? Onde estão esses bastiões da liberdade no Iraque? Isto é uma estória e foi-o desde o princípio. Sim, a estória foi para nós… mas para os 655.000 iraquianos mortos em consequência da nossa invasão (ver Johns Hopkins University), suponho que a estória é cruel. Ao menos estão libertados… para sempre.
Por isso não quero ouvir nem mais uma palavra sobre continuar a enviar tropas (desperta EUA, que John McCain está desorientado) nem sobre “redobrá-las” nem sobre esperar quatro meses para uma “retirada progressiva”. Só há uma solução para isto e é a seguinte: irmo-nos. Agora. Comecem esta noite. Saiam dai o mais rápido possível. Ainda que muito boa gente com consciência e bom coração não queira acreditar, ainda que nos custe aceitar a derrota, não há nada que possamos fazer para desfazer o mal que já provocámos. O passado, passado está. Se um condutor ébrio numa estrada matasse uma criança, não podia fazer nada para o ressuscitar. Se se invade e destrói um país, empurrando-o para a guerra civil, não há muito a fazer até que o fogo se apague e o sangue se limpe. Depois, limparmo-nos pelas atrocidades cometidas e ajudar os sobreviventes a regressar a uma vida melhor.
A União Soviética abandonou o Afeganistão ao fim de 36 semanas. Fizeram-no e apenas sofreram algumas baixas enquanto partiam. Deram-se conta do erro cometido e tiraram as tropas. Seguiu-se uma guerra civil. Os maus ganharam, nós derrotámos os maus e toda a gente viveu feliz para sempre. Vêem! No fim tudo se soluciona.
A responsabilidade de terminar esta guerra recai agora nos democratas.
O Congresso controla os cordelinhos, e a constituição diz que só o Congresso pode declarar uma guerra. Reid e Pelosi têm agora poder para acabar com esta loucura. Se não o fizerem, os votantes ficam furiosos. Não estamos a brincar, democratas, e se não acreditam, continuem com a guerra só mais um mês. Lutaremos contra vós ainda mais fortemente do que o fizemos contra os republicanos. A página de apresentação do meu sítio web tem uma foto de Nancy Pelasi e de Harry Reid, cada uma delas com uma colagem de fotos de soldados norte-americanos que morreram na guerra de Bush. Mas agora está pronta a transformar-se na guerra de Bush e dos democratas, a não ser que haja mudanças.
É isto que exigimos:
1 – Tragam-nos os soldados para casa, agora. Não dentro de seis meses. AGORA. Desistam de procurar uma forma de ganhar, Perdemos. Às vezes perde-se. Esta é uma das vezes. Sejam corajosos e admitam-no.
2 – Peçam desculpa aos nossos soldados e emendem-se. Digam-lhes que lamentam que tenham tido que lutar numa guerra que não tem nada que ver com a nossa segurança nacional. Devemos comprometer-nos a tratá-los de forma a que sofram o menos possível. Os que estiverem feridos física e mentalmente têm que ser tratados da melhor forma e receber uma compensação económica significativa. As famílias dos que caíram merecem melhor desculpa e será necessário o resto das suas vidas.
3 – Devemos penitenciar-nos pelas atrocidades que perpetrámos contra a população iraquiana. Há poucas maldades piores do que iniciar uma guerra baseada numa mentira, invadir um país porque alguém quer o que está enterrado sob o seu território. Agora muitos mais morreram. O seu sangue mancha as nossas mãos, independentemente de por quem se votou. Se alguém paga os seus impostos, contribuiu para os três biliões de dólares por semana que actualmente se gastam para levar o Iraque ao inferno em que se converteu. Quando a guerra civil acabar teremos que ajudar a reconstruir o Iraque. Não nos redimiremos enquanto não nos tivermos emendado.
Para terminar, há ainda outro assunto. Nós, os estadunidenses, somos melhores do que aquilo que fizeram em nosso nome. Uma maioria de nós estava triste e agastada desde o 11 de Setembro, e perdemos a cabeça. Não pensámos com clareza e nunca olhámos para o mapa, já que nos mantém na ignorância com o nosso patético sistema educativo e os nossos servis meios de informação. Não sabíamos que éramos NÓS quem armou e financiou Sadam durante muitos anos, incluindo quando ele massacrou os curdos. Ele era um dos nossos. Não sabíamos o que era um sunita ou um xiita, nem sequer tínhamos escutado essas palavras. Oitenta por cento dos jovens (segundo a National Geographic) não são capazes de encontrar o Iraque no mapa. Os nossos líderes aproveitaram-se da nossa ignorância, manipularam-nos com mentiras e assustaram-nos muito.
Mas no fundo somos boas pessoas. Pode ser que sejamos lentos a aprender, mas essa propaganda de “missão cumprida” soou-nos mal, e rapidamente começámos a fazer perguntas: Então começámos a ser mais capazes. Quando chegou o passado 7 de Novembro, chateámo-nos e tratámos de corrigir os nossos erros. Agora a maioria sabe a verdade. Agora a maioria sente uma tristeza e uma culpa profundas e espera que de alguma forma possamos corrigir erro.
Infelizmente não podemos. Assim aceitaremos as consequências das nossas acções e faremos o possível para não defraudar os iraquianos, se alguma vez decidirem pedir-nos ajuda. Pedimos-lhes perdão.
Exigimos que os democratas nos escutem e saiam do Iraque, agora, já.
Atenciosamente,
Michael Moore

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