Saturday, October 03, 2009

o dito referendo

Ainda não vi os resultados oficiais do referendo, mas se as sondagens estiverem certas o sim ganhou com alguma tranquilidade.

Provavelmente, lá estará o cherne a discursar sobre a democracia e sobre a sábia escolha do povo Irlandês. Alguns comentários, com certeza, sobre o "passo gigante na construção de uma Europa forte" blablabla, conversa de mete-nojo.

Estando no meio dos Irlandeses - sou a única, como eles próprios dizem "continental" - o que poderei adicionar à discussão?

Posso dizer que dos que foram votar - todos votaram "Sim" - não houve um, unzinho que soubesse explicar o que era o tratado. Todos diziam "Irlanda está melhor na UE que fora dela" ao que respondia "mas não é isso que está em discussão. O Tratado não fala, em nenhum artigo que os países que não aderirem ao Tratado terão de sair da UE", ao que não obtive resposta.

A discussão mais interessante que tive foi com o chefe. Votou sim. No outro referendo tinha votado não. Mudou agora pois tinha medo das consequências. Que sabia o que estava em causa, que é um mau referendo para oo Europeus mas também sabe que a Ilha está em bancarrota e depende de meia dúzias de multinacionais norte-americanas que apoiaram claramente este tratado (a Intel tem cartazes espalhados pela cidade a apelar ao Sim). Eu respondi-lhe "posso então concluir que o teu voto não é livre. É condicionado porque tens medo das consequências. Não votas sim porque apoias o Tratado mas porque sabes que daí podem advir consequências".

Vi surpresa na expressão dele. Alguns segundos de silêncio e ele lá disse, a custo, que sim. E que esperava que os conservadores ganhassem em Inglaterra pois o líder já referiu que vai referendar o tratado se ganhar as eleições. "E a Inglaterra dizer não não é a mesma coisa que a Irlanda." E por outro lado, referiu ele, a Europa deu-nos muitos milhões no nosso desenvolvimento. E eu respondi "não deu... fez troca, tal como Portugal, a Irlanda não tem direito a pescar nos seus próprios mares". Ele sorriu e deu-me razão. E acabei a dizer "Engraçado que quando o Chavez andou a referendar os mandatos, fomos invadidos pela comunicação social a chamá-lo de ditador e nós batemos palminhas e pensamos que vivemos em liberdade."

Ele sorriu e desejou-me bom fim-de-semana.

Falta realçar que a aposta da campanha, tanto de um lado como no outro, foi na ignorância e no medo. De um lado o medo dos turcos e dos salários baixos; do outro o medo de ter de sair da UE.

Sobre democracia, deixo-vos um excerto do Sicko, de Michael Moore - sim, e apesar de todo o marketing pessoal e demagogia. Uma entrevista de Tony Benn sobre democracia: "people in debt become hopeless and hopeless people don't vote. (...). If the poor in Britain and US turned down and voted for people that represent their interests it would be a real democratic revolution. (...). I tihnk there are two ways in which people are controlled: 1st of all frightened people, 2nd demoralized. An educated, healthy and confident nation is harder to govern. And I think there's an element in the thinking of some people "we don't want people to be educated, healthy and confident because they would get out of control". The top 1% of the world population own 80% of world wealth. It's incredible what people put up with it BUT they are poor demoralized and they are frightened and therefore they think that the safest think to do is to take orders and hope for the best".

Fica a entrevista:


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