O Inverno do meu descontentamento*

Eu sei que parte dele é da minha Natureza e em nada está relacionado com a Laranjinha.

O facto de tudo o que implique rotina me stresse também não ajuda, já que a palavra desenrascar deve ser como a “saudade” e isto é tudo M E T O D I C A M E N T E planeado – sim eu até acho que eles planeiam o próprio plano. E já sei que tudo o que implique a mesmas funções repetidamente durante um período de tempo deixa-me extremamente aborrecida.

Também odeio burocracia. Aquela coisa “não pode ser porque não dá”; “não podes fazer porque não se faz”. O facto de não reclamarem. Eles acham que reclamam e que são reivindicativos, mas a falar com um amigo ele realizou algo que também penso: eles queixam-se, que é muito diferente de reclamar. Ou seja, se no Rectangulozinho a coisa é “é a vida o que é que se há-de fazer”, aqui moi-se os ouvidos do que está ao lado.

A falta de gentileza: ninguém se levanta e dá o lugar em transportes públicos à terceira idade ou a mães ou futuras mães – mesmo pedindo. E aqueles que andam com radiozinhos e acham que às 8 da manhã a Byonce ou a Britney é melodia que se oiça.

O facto de fumarem em todo o lado. Em todo o lado. Não há o mínimo de preocupação se as pessoas estão a almoçar ao lado ou se são 8 da manhã e a alternativa entre partilhar um abrigo com um fumador é a chuva.

O facto de dizerem que têm sistema de saúde público. O tanas: é privado e posso provar pelos 150 euros que todos os meses são descontados do salário. Só se for público pelo facto de não ter acesso directo aos especialista.

Os monossilábicos. O que me irritam! Acho mais humana “mind the gap” que a passadeira rolante no aeroporto diz de cinco em cinco segundos.

A linha de metro 51. Um stress; pelo menos uma vez por semana tenho uma horita trancada no meio do nada.

Trabalho: O FYI que aqui nesta empresa é traduzido por “fica lá com a batata quente nas mãos e pode ser que consigas fazer um FYI para alguém que esteja há menos tempo na empresa... e ups o primeiro e-mail estava em Alemão ou numa das línguas nórdicas... tens sempre o freetranslation.”. Pôr toda a chefalhada em cópia nos e-mails. Para quê? Porque é que um gajo que está a ¾ da hierarquia se deveria interessar pelo facto de um cliente na Moldávia precisar de uma nova password? (e se se preocupa, algo vai muito mas mesmo muito mal e mais vale contratar um recém-licenciado que sai mais barato). Só se for naquela do “ai, ai, ai, se não fazes o chefe do teu chefe do teu chefe sabe”. Ou então “sou tão bonzinho que o chefe do teu chefe do teu chefe vai saber que trabalhas e que resolves bem problemas”. Gente que só é simpático para fazer networking. Irritam-me solenemente e esta empresa é tipo cacho de uvas. Fazem sempre as mesmas perguntas vezes sem conta porque só perguntam por perguntar. Não querem saber da resposta. Resultado: há um anormal que nunca deve ter dito um dia mau e anda sempre “Great” e que teve sempre “fantastic weekends” que já perguntou trinta mil vezes se gosto de Fado. Porra que é burro! E o que me irrita é que põe aquela cara e sorriso colgate do “eu estou-me a marimbar para o que estás a dizer” e de 10 em 10 segundos faz um “haha” que é o nosso “pois”, serve para tudo. Já lhe disse que devia comer menos queijo. Obviamente que a piada não funcionou já que parece que só no nosso país é que o queijo é visto como sinónimo de falta de memória. O facto de ninguém dar respostas: ninguém quer saber, não há explicação para nada, só sabem que quando carregam no enter o resultado é X. Porque e como acontece estão-se a marimbar. O trabalho manual é algo que nunca vi antes e perante a amostra de empresas que trabalhei na NL fico abismada a perguntar aonde vão buscar os níveis de produtividade. A falta de entre-ajuda: isto não é uma empresa – é um conjunto de indivíduos que se junta no mesmo edifício, em pequenas ilhotas legalmente estabelecidas que cumprem horários.

Mas será que nunca mais vem o Sol?

*tirado de um grande autor norte-americano John Steinbeck que fez as minhas delícias até ter lido todas as obras dele e o gajo ter deixado de escrever porque foi desta para melhor