Saturday, November 10, 2007

Problemas colocados em perspectiva

T começou a trabalhar connosco um par de meses depois de mim. Ascendência Indiana, criada entre o gigante asiático e os Estados Unidos ao que se pode acumular mais 10 anos de trabalho na Europa. Todos os dias aparece com um sorriso rasgado, um olhar que brilha entusiasmo e tem sempre, mas sempre uma palavra de encorajamento e um pragmatismo incrível.

Quando chegou, a empatia foi imediata. Nomeadamente porque em momentos de crise, em que tudo corre mal e até dá medo olhar para e-mails ela saiu-se com a brilhante frase “hey, it’s just work. And work it’s just distraction! Let’s have fun”. E não é que tem razão? Ou quando nos pergunta (e pergunta com alguma frequência): “hey, how are you?” e institivamente a reposta começa com “this supid system is not working again” e ela com uns olhos negros enormes que relevam uma honestidade incrível “that’s work and how are you?”.

Há relativamente pouco tempo disseram-me que o marido tinha falecido e que, por causa disso, tinha ido com os filhos passar uma temporada nos EUA. Metia-me confusão o facto dela tratar o marido no presente. Agora percebo porquê: o marido está incapacitado (física e mentalmente) devido a um acidente coronário. Desde o acidente que foi tentar a recuperação nos EUA e Índia. Voltou há algumas semanas à Holanda. Depende dela para tudo.

Menos mal, pensei. Agora, não sei se será bem assim. De um momento para o outro ela ganhou outra passoa, para além dos filhos, que depende dela para tudo e que, por vezes, não a reconhece. Para além de, no mesmo momento, ter perdido o companheiro, marido ou como ela se refere a ele, com um enorme brilho o olhar “o homem da minha vida”.

Todas as manhãs, depois da correria matinal que qualquer família enfrenta, ainda tem de se preocupar se a enfermeira chega a horas, verificar se os comprimidos/tratamentos/consultas acontecem . Isto porque não “há camas disponíveis para o marido num centro de recuperação em toda a Holanda”. – pois é, não é só em Portugal.

E todas as manhãs quando chega ao escritório tem um sorriso para partilhar e pergunta-nos “how are you?”

Faz-nos pensar...

PS – já me referiu algumas vezes que eu estaria bem a trabalhar numa ONG (ou em consultoria). Não disse que sim nem que não mas preferia a primeira.

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