A ida ao Consulado Português em Roterdão
Chegada: 15 horas. Tinha cerca de 4 pessoas à frente, com 3 pessoas a atender.
Chegou a minha vez por volta das 4 da tarde. Atendeu-me um xenhor lá de xima (que penso que falei com ele ao telefone, porque é pouco provável que haja duas personagens assim na mesma instituição, mas vai na volta…). Expliquei-lhe a situação que não tinha nenhum documento oficial que provasse quem eu era (isto dito assim é muito estranho), que precisava de levantar o código do cartão bancário, etc, etc…
“Mâje a menina xtá inxcrita no conxulado?”. Expliquei-lhe que não, porque era recente, patati-patata. “Ai, axim é complicado… Um BI demora xerca de 3 mejes”. Perguntei-lhe o que sugeria. Porque tinha contas para pagar, porque não tinha qualquer tipo de acesso à conta bancária.
“expere um pocaxinho que é melhor falar com a minha colega”.
Muito bem, espera de mais meia hora.
Lá entrei para uma sala onde uma senhora muito bem composta estava à minha espera.
“Ora então conte lá!" (e eu com o sangue a fervilhar mas a tentar manter o sorriso).
Lá lhe expliquei que tinha perdido a carteira, que tinha lá todos os documentos comigo, que neste momento não tinha nenhum documento oficial, mas que o BI tinha aparecido e que tinha sido enviado pela Polícia dia 27 de Setembro… (“deixe-me verificar”. Foi-me buscar uma resma de BIS completamente desorganizados (by the way, estava lá o da Paula Bobone… parece que esse ninguém o quis) e disse: “não, não chegou nada. Aconselho-a a ir à Polícia e perguntar se eles enviaram por carta registada para poderem apresentar queixa”).
Muito bem. Pergunta seguinte: “E se não aparecer? Não posso tratar já do BI?”. Resposta: “Poder, pode mas demora cerca de 2 meses… na melhor das hipóteses. Porque a média anda aí nos 3.”
Respiro fundo.
“Então e o que é que me sugere?”, perguntei eu a medo, já a pensar no “Vá de carro!”
“O melhor é pedir uma Certidão de Nascimento em Portugal, para efeito de BI, vem cá e traz também duas fotografias, enviamos para Lx um pedido para viajar que é válido por 5 dias e lá trata do BI. Leva logo a certidão daqui… é muito mais rápido”. Perguntei se a autorização para viajar era logo enviado de Lx. Resposta: “O melhor é vir por volta das 9 horas, enviamos as coisinhas logo para Lx vai dar uma voltinha por Roterdão que é bonitinho e pode ser que ao meio-dia já cá esteja. Se não, terá de voltar cá no dia seguinte”. No meio das "inhas" todas perguntei: “E não me pode enviar isso para Amesterdão ou eu preencher já o documento, enviar a certidão e depois envia as coisas no final de Out?”. “Ai, menina, isso não… tem de ter a data do dia”.
“Então e se eu preencher os impressos para fazer já o BI, enviar pela DHL ou outra companhia directamente para uma Loja do Cidadão ou para um familiar meu em Portugal e pedir um BI de urgência? Também não dá? Sabe, é que eu trabalho… ”. “Não, não, o regulamento não deixa." [pois é... o bendito REGULAMENTO]
Baixei o olhar, a tentar raciocinar e racionalizar algo que para mim não faz sentido quando olhei para um poster que publicitava o SIMPLEX… O DITO SIMPLEX. Passou-me na mente alguns filmes de Fellini ou Woody Allen, porque efectivamente só rindo. Sem reflectir, disse: “Isto é caricato”… A Senhora fechou o rosto e eu percebi que tinha metido o pé na poça: não sei se ela pensou que chamei ao sistema caricato, se a tinha chamado de caricato ou se não sabia sinónimo de caricato e pensou eu lhe tinha chamado um nome feio.
Perdida por cem, perdida por mil, resolvi arriscar:
“O que é que me aconselha a fazer? Vou ficar mais um mês sem um único documento? E se me pedem algo? O que devo responder? O Consulado não pode fazer nada por mim? Ao menos passa-me um documento a reportar esta situação? Pelo menos para ter algo, qualquer coisa?”
Encolheu os ombros e disse que não havia FORMULÁRIOS para o efeito! [pois é... FORMULÁRIOS]
E porque a paciência tem limites: “Eu estou em solo português a pedir ajuda e está-me a dizer que não pode fazer nada por mim? Que a solução é andar um mês sem documentos? Vocês que nos representam”.
Resposta da Sra: “Repare, eu nem sei quem a menina é!" Achei que não valia a pena.
“Ainda me disse: leve um desses folhetos onde estão os seus direitos. Se vai ficar por aqui tem de se inscrever para votar (e, expressão fantástica) E ISSO TUDO”.
Não me lembro se lhe respondi. Mas sei que lhe lancei o olhar Miss-Iceberg-no-polo-Norte-Sem-Efeito-de-Estufa-à-vista.
Sugestões? Aceitam-se…